terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Conversa imaginária









Eu tenho mania de pensar imaginando diálogos, entrevistas e preleções.

Nos diálogos geralmente eu domino a conversa, o que acaba se tornando, na verdade, um monólogo. Às vezes, meu interlocutor domina o assunto até mais do que eu, mas, humildemente, se mantém calado, ouvindo-me por longo tempo.

Agora ha pouco, eu estava tendo uma dessas conversas imaginárias, com o meu professor não imaginário Eduardo.

Eduardo Vasconcelos era um dos professores que eu mais apreciava quando estudante. Tanto é que fiz questão de ser monitor em uma de suas disciplinas e, depois, escolhí-o como orientador de meu projeto final.

Estava imaginando uma conversa sobre arquitetura com este meu professor, mas, honestamente, não sei como seria uma conversa arquitetônica com ele, estando eu afastado da minha profissão há quase três anos e não tendo planos de voltar a exerce-la.

Em um primeiro momento, a conversa não era com ele. Aliás, nem era uma conversa: estava dando uma entrevista em um programa de televisão, do tipo “Sem Censura”, da TV Brasil. Foi mais ou menos assim:

- Sabe, quando eu olho para o prédio do MEC, no centro do Rio, vejo ali um exemplo de arquitetura social e ambientalmente responsável, com pouquíssimos paralelos na arquitetura nacional. Veja a construção em centro de quadra, sobre pilotis, pés-direitos generosos, uso de brise-soleil, telhado-jardim, tratamento paisagístico na quadra e uso de elementos que se identificavam com a arquitetura colonial, tão presente no imaginário coletivo. Quanto se atravessa a rua e chega-se ao quarteirão do prédio, já se percebe uma diferença até no próprio clima, tal o êxito do projeto da jovem equipe de arquitetos, comandada por Lúcio Costa.

Já imaginaram como o centro do Rio seria muito mais agradável se todas as construções seguissem o padrão do MEC?

- E por que não seguiram? Perguntou um dos presentes

- Porque quem dá as regras na construção civil são aqueles que ganham dinheiro com a especulação, a construção e a venda dos empreendimentos. O pensamento é o seguinte: “Se eu posso construir cinco prédios em um mesmo terreno, porque vou construir somente um?” Então alguém responde: “Você pode construir um só edifício, porém bem mais alto”. O especulador retruca: “Ora, se posso construir um edifício bem alto, por que então não construir cinco deles?”

E ainda essa: “Se eu posso construir 11 andares dentro do mesmo gabarito de 10, por que então construiria 10?”

Assim, a qualidade de vida dos moradores vai ficando cada vez pior e a cidade, cada vez mais caótica.

A arquitetura que se constrói hoje não tem compromisso com o bem-estar social e nem com as questões ambientais. O que conta é o bem-estar de quem ganha com a especulação imobiliária. Assim, a arquitetura deixa a sua função social e os arquitetos deixam de criar soluções para o caos urbano. Na verdade, o que eles criam hoje serve somente para agravar este caos.

Sinceramente eu não quero fazer parte disso. [Neste momento, e não sei exatamente desde quando, já estava no "diálogo" com o professor Eduardo, pois acredito que ele seria uma das pessoas que me perguntaria o porque de eu ter abandonado minha atividade profissional]. Prefiro, por enquanto, ser, no máximo, apenas um teórico em arquitetura. Pode ser que um dia eu volte a exerce-la, mas será de uma forma muito mais amadurecida e consciente. E terá que valer a pena.

Por enquanto, acredito que a atividade prática que estou desempenhando é muito mais produtiva e benéfica do que qualquer outra que pudesse estar exercendo. Isso porque acredito realmente que o evangelho tem o poder de mudar o coração de pessoas.

Para ilustrar melhor este ponto, vou relatar uma conversa que tive, certa vez, com uma pessoa que conheci na praia. Na verdade, estava tentando compartilhar o evangelho com um jovem estrangeiro, um espanhol. Ele não quis me ouvir. Disse que não considerava importante o que eu queria compartilhar. Que não cria naquilo.

Então eu perguntei pra ele: “O que então você considera importante? No que você acredita?”. Ao que ele respondeu: - Eu acredito na ecologia. Acho que esse é o tema mais importante que se deve tratar.

- Por que? - Eu perguntei

- Porque a “Mãe Natureza” é quem nos provê todas as coisas e precisamos protege-la.

- E por que você acha que as pessoas destroem o meio ambiente?

- Ora, porque lhes falta educação.

- Bem, então por que pessoas educadas e cultas também destroem o meio ambiente? [muitas vezes, as pessoas destroem a natureza mesmo estando bem conscientes disso]

Neste momento ele pensou um pouco e disse :

- Não sei.

- Eu acredito que este é um problema do coração do homem, respondi

Então ele retrucou:

- Bem, mas... eu não tenho como mudar o coração do homem.

- Mas Jesus tem! E é por isso que eu acredito na importância do trabalho que estou fazendo, de compartilhar a mensagem que estou compartilhando.

- Mas nem todas as pessoas entendem.

- Não é que as pessoas não entendam. Mas é que, muitas vezes, elas não querem ouvir.

Neste ponto acho que ele percebeu que eu estava falando dele...

Veja: através da atividade que estou exercendo hoje eu tenho o privilégio de atingir, com o evangelho, o coração de futuros médicos, advogados, juízes, professores, escritores, arquitetos, cientistas sociais, empresários... Não somente profissionais que exercerão sua função de modo diferente, mas também formadores de opinião, que influenciarão positivamente a vida de muitos outros.

Eu creio realmente o evangelho pode mudar um coração. Eu tenho visto isso acontecer e já vi até casos de mudanças radicais. Casos em que, ou você acredita em milagres, ou você não acredita que aquela pessoas realmente mudou. Bem, eu acredito em milagres. E acredito que se uma única pessoa com quem eu tenho compartilhado o evangelho tiver o seu coração transformado, isso será mais produtivo e mais benéfico do que qualquer outra atividade que eu possa fazer.

PS: Uma curiosidade: Para quem não sabe, hoje é o Dia do Arquiteto e do Engenheiro. A todos os guerreiros que estão nesta lida, e aos futuros (os estudantes),os meus PARABÉNS!

0 comentários: