terça-feira, 14 de junho de 2011

Um Deus Feliz

 “...segundo o evangelho da glória do Deus bendito, que me foi confiado.” (1 Timoteo 1.11 – grifo meu)

Você percebeu algo diferente no texto acima? Provavelmente não. Pra mim também não havia nada diferente até descobrir que “bendito”, aqui, no original, significa “feliz” (makarios, também usado nas “Bem-Aventuranças” e várias outras passagens). Ou seja: nosso Deus é feliz!

O Dr Russel Shedd escreveu que o fato de Deus ser feliz é um dos motivos pelos quais ele nos criou. Ou seja, para compartilhar sua felicidade. Devemos ter em mente esse atributo de Deus quando pensamos na criação. Ele estava feliz ao criar o homem e o criou para ser feliz (à sua imagem e semelhança).

Em 1 Timóteo 6.15, Cristo, a imagem perfeita de Deus, também é chamado de “bem-aventurado” (a mesma palavra grega é usada): “a qual, no tempo próprio, manifestará o bem-aventurado e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores”

Em Neemias 8.10 lemos: “Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força”.

Note que não diz “a alegria no Senhor”, mas “do Senhor”. Deus é alegre, e deseja compartilhar de sua alegria. Na verdade, essa alegria é a nossa força.

No mesmo capítulo o povo foi ordenado a celebrar festivamente com folhas de palmeiras, (também usadas na recepção de Jesus, em Jerusalém). E no versículo 11, encontramos: “Acalmem-se, porque este é um dia santo. Não fiquem tristes”.

 Isso é espantoso! Porque normalmente não associamos a santidade de Deus à alegria. Mas este texto apresenta justamente a santidade de Deus como o motivo de grande alegria e não de tristeza. Aliás, é interessante observar que o Templo de Deus era ornado com querubins, flores e frutos (e não só querubins). Para mim, a presença desses elementos sempre me surpreenderam, por seu ar vivo e alegre, em contraste com a imponência e serenidade do Templo.

Dizer que Deus é feliz vai tão contra a nossa cultura que quase soa como heresia. Quando imaginamos um Deus sorridente, quase queremos abandonar esse pensamento, como se estivéssemos associando-o à imagem de alguma divindade hindu. 

Mas note: dizer que Deus é feliz não significa dizer que ele não se entristece. Um dos textos mais emblematicos a respeito disso está em João 11.35, em que o “Bem aventurado”, chorou a morte de um amigo.

A morte é consequencia do pecado. Entendo que antes do pecado, não havia motivo de tristeza. Ao pecar, a morte entrou na história. Mas Cristo venceu a morte! E aqueles que estão em Cristo, têm um destino diferente, o destino para o qual fomos criados. Aliás, um dos últimos versículos da Bíblia diz assim:

“Bem-aventurados [novamente, makarios] aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que tenham direito à arvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas”. (Apocalípse 22.14)

Você já notou que o encontro da Igreja com Cristo é definido como “boda”? (Veja Apocalípse 19 7-9, onde “makarios” aparece novamente) .O que é boda? Festa! E, pensando no contexto bíblico, pense em uma festa mesmo! Aliás, é bem conhecido o texto que diz que quando um pecador se arrepende há “festa” no céu”. Se um dia santificado na terra é motivo de grande festa, imagina o que é o céu!

De certa forma, Deus quer que experimentemos um pouco dessa festa agora. “Makarios” aparece, cerca de 50 vezes no Novo Testamento, referindo-se à uma experiência atual para os crentes. Afinal, em Cristo, não temos um dia ou local santo em específico, mas vivemos na Sua santidade, em todo o tempo e lugar. O Espírito (que é Santo), o Espírito de Cristo (o Bem-Aventurado) habita em nós. Jesus disse que chegaria o dia, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores não dependeriam de um lugar santo específico para adorar, mas adorariam em Espírito e em Verdade.

Os primeiros cristãos viviam essa realidade de uma maneira espontânea. Seus encontros de celebração eram tão alegres que ficaram realmente conhecidos como festas. E não eram só nos encontros: eles experimentavam a alegria contagiante do Senhor em seu viver diário .

Se nos compenetrarmos de que o Deus a quem servimos é feliz, isso mudará não só a maneira como nos relacionamos com ele e os demais, como também a forma como o apresentamos aos homens.


[Observação: para o propósito do texto, me esquivei, aqui, de entrar nas diferenças conceituais entre “alegria” e “felicidade”. O sentido de felicidade, usado aqui, se aproxima do que normalmente é atribuido apenas à alegria, ou seja, um estado de espírito que independe de circunstâncias, mas provém de Deus. Não é anulação de tristeza, mas é algo perene e permanente.]

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